“Pecado” significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Para alguns, é apenas um termo irrelevante que religiosos usam para empurrar um senso moral pesado e ultrapassado para o alto da autojustiça. Para outros, a palavra evoca o medo da punição e uma dolorosa sensação de nunca ser “bom o suficiente”.
As ideias que as pessoas têm sobre o que o pecado significa geralmente se baseiam em suas experiências e contextos particulares. Mas na Bíblia, há um retrato abrangente e atemporal do pecado como um conceito relevante para todas as pessoas, em todas as culturas.
O Primeiro Pecado
À primeira vista, o relato de Gênesis sobre o primeiro pecado pode parecer de relevância limitada… Ou seja, destina-se principalmente a pessoas religiosas que têm uma determinada visão da Bíblia. Mas, independentemente da visão que se tenha da Bíblia ou da religião, a história a seguir revela um dilema doloroso que afeta a todos nós.
No início do terceiro capítulo de Gênesis, no jardim do Éden, “a serpente” questiona Eva, a primeira mulher, sobre as restrições de Deus em relação às árvores frutíferas. Ela explica que apenas uma árvore está fora dos limites, e a pena por comer seu fruto é a morte. A serpente imediatamente lhe diz que ela foi mal-informada e que, além de não causar a morte, o fruto proibido a tornará semelhante a Deus, conhecendo o bem e o mal. Eva acredita na serpente e, em seu desejo de ser como Deus, rebela-se contra Ele, encorajando seu marido a fazer o mesmo.
O que é pecado
A Bíblia não limita nossa compreensão do pecado a atos de imoralidade. Não havia nada de imoral no fruto. Foi a desconfiança em Deus e o desrespeito aos Seus limites protetores que tornaram comê-lo um pecado. Portanto, embora o pecado às vezes se expresse em atos de imoralidade, ele sempre desafia ou descarta a integridade, a autoridade e, em muitos casos, a existência de Deus. É por isso que todo pecado é tão ofensivo a Deus. Pecado é qualquer pensamento, palavra ou ação que essencialmente diga a Deus: “Não preciso nem aceito a Sua autoridade”.
O que causa o pecado
O pecado está enraizado no desejo de independência de Deus. À primeira vista, isso não parece algo ruim — afinal, bons pais criam seus filhos para que sejam capazes de se sustentarem sozinhos. E acreditamos que Deus quer que as pessoas sejam livres para pensar, escolher e desenvolver a inteligência e a fibra moral que Ele nos deu. Mas, quando nos aprofundamos um pouco mais, o problema vem à tona.
Por natureza, os seres humanos simplesmente não são independentes. Precisamos de coisas como nutrição, água e abrigo para sobreviver fisicamente — e temos necessidades espirituais. Precisamos nos conectar com algo ou alguém para saber e afirmar quem somos. Precisamos de algo ou alguém em quem depositar nossa esperança e confiança. Precisamos saber e vivenciar o que torna a vida digna de ser vivida. Dependemos dessas coisas porque elas fazem a diferença entre uma vida significativa e a mera existência. Quando ignoramos ou desobedecemos a Deus, não nos tornamos independentes; ainda temos todas essas necessidades. Simplesmente dependemos de um deus substituto para satisfazê-las.
O problema de Eva não era seu desejo de ser como Deus. Deus quer que os seres humanos sejam como Ele — por que mais Ele nos criou à Sua imagem e nos deu autoridade sobre todos os outros seres vivos na terra e no mar (Gênesis 1:26-28)? Deus quer que os seres humanos tenham sucesso, e esse sucesso depende de ser como Ele — até certo ponto. O pecado de Eva e Adão não foi buscar conhecimento, mas buscá-lo em oposição ao que Deus disse. Eles acreditaram na mentira de que a autonomia humana é desejável e factível , e que para realmente ser como Deus, eles teriam que desobedecê-Lo. Uma coisa é querer ser como Deus exemplificando Seu amor e criatividade ao exercermos a autoridade que Ele delegou — isso é alcançar nosso potencial. Mas quando rejeitamos os sábios limites de Deus, nosso desejo de ser como Deus é envenenado por um desejo pecaminoso de substituí-Lo como a autoridade máxima.
O que o pecado faz
O pecado nega a identidade de Deus
Como você se relacionaria com alguém que o confundisse com um cachorro, lhe fizesse carinho atrás das orelhas e lhe oferecesse ração se você simplesmente rolasse? A maioria descobriria que não há base para um relacionamento a menos que essa pessoa estivesse disposta e fosse capaz de entender que está lidando com um ser humano. Da mesma forma, não podemos ter um relacionamento com Deus a menos que seja baseado em quem e no que Ele realmente é. Ao rejeitar a autoridade de Deus, estamos rejeitando uma das realidades mais fundamentais sobre quem Ele é. E Deus não se conformará às nossas ideias de quem Ele é para ter um relacionamento conosco.
O pecado destrói nossas identidades
O pecado nos faz esquecer que quem somos está inseparavelmente ligado a quem Deus nos criou para ser. Tentar reconstruir nossa identidade à parte de Deus é como tentar montar um quebra-cabeça de 10.000 peças sem uma imagem de como deveria ser… e com metade das peças faltando. Tentar encontrar nossa identidade com base em nossa visão limitada de nós mesmos abre uma necessidade infinita e dolorosa pelo próprio Deus que rejeitamos… e nos sentencia a buscar eternamente maneiras de suprir essa necessidade. E quando tentamos preenchê-la com algo ou alguém menos que Deus, a imagem de Deus em nós se despedaça. Ainda conseguimos ver fragmentos de Sua bondade uns nos outros, mas também sentimos as arestas afiadas e quebradas causadas pelo impacto do pecado.
Bilhões de seres humanos estão vivendo as consequências de sua crise de identidade espiritual — não é de se admirar que estejamos constantemente nos submetendo, e uns aos outros, à ilusão, à decepção e ao dano. O que é bom e certo é pisoteado de mil maneiras diferentes a cada momento, todos os dias. O grito de nossos corações: “Não é assim que deveria ser!” é um lembrete constante de que fomos feitos para algo melhor. E, no entanto, parece que não conseguimos evitar ser parte do problema.
O pecado produz medo do julgamento e da rejeição, o que resulta em esconder e culpar os outros
É interessante que, assim que Eva e Adão pecaram, souberam que estavam nus e ficaram envergonhados. Nunca haviam notado a brisa batendo em sua pele nua? Como é possível que a ausência de roupas nunca tenha sido um problema antes? Parece que nunca sentiram necessidade de esconder nada até pecarem. O medo do julgamento e da rejeição nos faz tentar controlar o que os outros podem ver ou saber sobre nós.
O medo produzido pelo pecado também nos faz transferir a culpa, para que outros recebam o julgamento e a rejeição em nosso lugar. Quando Deus pergunta a Adão o que ele fez, Adão explica que Eva foi quem comeu o fruto, e ela o deu a ele para comer. Quando Deus confronta Eva, ela explica que a serpente a enganou, e é por isso que ela comeu.
Assim que começamos a desconfiar de Deus, rapidamente começamos a desconfiar de outras pessoas.
O pecado não produz apenas medo, mas também uma tendência a fazer as piores coisas possíveis em relação aos nossos medos: fugir, esconder-se e tentar parecer inocentes, concentrando-se na culpa alheia. Assim que desconfiamos de Deus, rapidamente começamos a desconfiar de outras pessoas, até mesmo de nossos entes queridos… e a verdade é que há momentos em que nem confiamos em nós mesmos.
Qual é a solução para o pecado?
É sempre inspirador ver pessoas que fracassaram em alguma área da vida admitirem seu fracasso, se esforçarem mais, melhorarem e se redimirem. Mas, quando se trata de pecado, redimir-se não funciona. A própria natureza do pecado nos sabota, pois medimos o que deveria ou não ser de acordo com nossos próprios padrões e expectativas, que muitas vezes não são atendidos e, às vezes, destrutivos. Assim, a confusão, a decepção e o ciclo vicioso de sermos magoados e magoarmos os outros continuam. Nada disso nos dá a alavanca para nos redimirmos. Precisamos ser redimidos.
Deus nos ama e oferece um caminho de redenção que quebra o ciclo tóxico do pecado. Ele renova nossas mentes para que possamos ver a nós mesmos e aos outros de uma maneira totalmente nova. É uma redenção que substitui nosso desejo de fugir dEle pelo desejo de correr para Ele; nos capacita a considerar Sua autoridade com gratidão em vez de medo, e nos liberta para viver e prosperar como pessoas que sabem que são perdoadas e amadas, e que estão tão seguras na aceitação de Deus que somos capazes de perdoar e amar os outros como nunca.
Acreditamos que a história da redenção de Deus começa a se desenrolar em Gênesis e continua através da Lei e dos Profetas — através de todo o Tanakh, na verdade — e encontra seu ápice no evangelho e na obra redentora de Jesus, o Messias.
Nossa resposta ao pecado
Queremos responder aos nossos próprios pecados como Deus nos convida: com arrependimento, fé e gratidão pela solução de Deus e uma abordagem humilde para com os outros (Atos 3:19; 1 João 1:9; Efésios 4:32).
Deus nos chama a amar os outros como a nós mesmos (Mateus 22:37-39). Isso inclui grande tristeza pelos efeitos enganosos e destrutivos do pecado em nosso mundo, compaixão por aqueles a quem o pecado enganou e desumanizou, e esperança de que eles possam receber a redenção que encontramos no Messias Yeshua.
Ruth Rosen
Título Original:
What Is Sin?
By Jews For Jesus | August 18 2021